
Cena do filmeRay assume um risco monumental: tentar captar toda a carreira de um dos maiores artistas norte-americanos, o mito Ray Charles. Graças à atuação hipnotizante de Jamie
Diferentemente das canções, porém, o filme não revela tudo. O longa mergulha fundo na vida do cantor, repleta tanto de dor e de problemas quanto de vitórias e realizações. Mas, por algum motivo, não consegue decifrar quem realmente foi Ray Charles.
Pode ser que o diretor Taylor Hackford, que passou 15 anos desenvolvendo o filme, com a colaboração de Ray Charles, tenha chegado perto demais de seu tema.
A melhor coisa de Ray é a maneira como dramatiza as influências musicais de Ray Charles, as mudanças em seu estilo e como o público foi reagindo a tudo isso.
Vemos Ray quando jovem, absorvendo o gospel, o jazz e o country. Ele começa por imitar o estilo de artistas populares como Nat King Cole e Charles Brown. Mas depois de encontrar sua voz própria, que é mais profunda e mais funk, Ray começa a fazer experimentos.
Ele funde o R&B com o gospel - o que, para alguns, é sacrilégio, para outros inovação bem-vinda. Em seguida, avança pelo rock e depois pelo country. Com cada avanço, o filme, em uma ou duas cenas bem realizadas, transmite todo o impacto que essas novidades tiveram sobre o cenário musical.

Ray se vicia em heroína, dependência que carrega por anos, até conseguir libertar-se dela. O filme passa tempo demais ilustrando essa batalha.
Os roteiristas Hackford e James White tentam vincular o problema com drogas ao sentimento de culpa de Ray pela morte de seu irmão e o estresse resultante de ser cego, mas não conseguem nos convencer.
O filme não chega a penetrar realmente na personalidade de Ray Charles, mas Jamie Foxx tem uma performance totalmente carismática.
Ele capta a maneira angular como Ray movimentava o corpo, balançando para frente e para trás na banqueta do piano ou quando simplesmente entrava numa sala. Mais crucialmente, Foxx expressa a natureza interior de Ray Charles, sua doçura inata, sua harmonia com o mundo, graças a sua audição aguçada e seu dom instintivo de agradar às pessoas.
Não há dúvida de que Taylor Hackford, que criou La Bamba e Chuck Berry Hail! Hail! Rock and Roll, um dos melhores documentários já feitos sobre a música pop, sabe fazer filmes sobre música, de modo que a produção é impecável, do começo ao fim.